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Fundos de ações com foco em ESG crescem no Brasil

Fundos de ações com foco em ESG crescem no Brasil

19/09/2025 - 00:07
Robert Ruan
Fundos de ações com foco em ESG crescem no Brasil

O mercado de investimentos no Brasil vive uma verdadeira revolução com a ascensão dos fundos de ações focados em ESG. Desde o final de 2022, quando havia apenas 88 desses fundos, até abril de 2024, esse número saltou para 120 sob a gestão de 40 gestoras. Esse movimento reflete não apenas uma demanda crescente por responsabilidade socioambiental, mas também a convicção de que critérios ESG podem, sim, andar lado a lado com performance financeira.

A seguir, exploraremos em detalhes os principais aspectos desse fenômeno: números de captação, desempenho comparado aos fundos tradicionais, tendências globais, composições de carteira, avanços regulatórios e os desafios que ainda precisam ser enfrentados.

Evolução e Crescimento Quantitativo

O crescimento no número de fundos ESG no Brasil tem sido impressionante. Em 2020, a captação de recursos em fundos de ações com foco em ESG atingiu R$ 2,5 bilhões, com mais da metade desse montante proveniente de produtos lançados nos 12 meses anteriores. Esse cenário demonstra a captação recorde de recursos por parte de investidores que buscam aliar rentabilidade e impacto positivo.

Entre 2022 e abril de 2024, observou-se um incremento de 36% no número de fundos ESG. Esse aumento é resultado de diversos fatores, como maior conscientização ambiental, avanços regulatórios e o desempenho atrativo dessas carteiras mesmo em um ambiente macroeconômico incerto.

  • 2020: R$ 2,5 bilhões captados em fundos ESG
  • 2022: 88 fundos registrados
  • Abril de 2024: 120 fundos ativos

Desempenho e Comparação com Fundos Tradicionais

Quando se trata de resultados, os fundos de ações ESG não deixam a desejar. Desde abril de 2022, a indústria de fundos de ações apresentou variação média de 14,5%. No mesmo período, os fundos que adotam fatores ESG cresceram 26,5%, enquanto os fundos de equity IS registraram alta de 31,6%.

Para ajustarmos expectativas, é importante comparar esses números com índices de referência. Entre abril de 2022 e outubro de 2024:

Esses resultados mostram que, mesmo com o recuo do Ibovespa e a alta volatilidade global, as carteiras ESG nacionais têm se beneficiado de maior exposição a ativos internacionais e de uma estratégia de diversificação eficiente.

Tendências e Transformações Recentes

A despeito do sucesso inicial, o ano de 2025 trouxe desafios para os fundos de ações ESG. No primeiro trimestre, houve saídas líquidas recordes de US$ 8,6 bilhões em fundos sustentáveis globalmente, contrastando com entradas de US$ 18,1 bilhões no trimestre anterior.

Essa migração de capitais reflete diversos fatores:

  • Pressões geopolíticas e incertezas regulatórias em mercados-chave.
  • Maior cautela dos investidores diante de cenários internacionais voláteis.
  • Busca por renda fixa sustentável em um contexto de juros elevados.

No Brasil, parte dos investidores também migrou para produtos de renda fixa sustentável, buscando proteção contra a volatilidade e aproveitando incentivos fiscais e regulatórios.

Composição de Carteiras e Debates

Um dos temas mais controversos na gestão de fundos ESG é a inclusão de empresas de setores tradicionalmente considerados de alto impacto ambiental. Até agosto de 2024, as 10 ações mais presentes em carteiras ESG eram:

  • Vale
  • Microsoft
  • Nvidia
  • Itaú
  • Google
  • Amazon
  • Petrobras
  • WEG
  • Eletrobras
  • Bradesco

A presença de gigantes como Vale e Petrobras gera um debate intenso entre exclusão pura e simples e a abordagem de transição e engajamento. Defensores da transição argumentam que o engajamento ativo pode gerar transformações mais profundas nos processos produtivos dessas empresas.

Avanços Regulatórios e Transparência

Nos últimos anos, a CVM e entidades de autorregulação setorial implementaram diretrizes que garantem maior clareza sobre os critérios ESG adotados pelas gestoras. Hoje, é comum encontrar relatórios detalhados sobre processos de seleção de ativos, métricas de avaliação e indicadores de impacto.

Essa transparência sobre critérios ESG fortalece a confiança dos investidores e contribui para o amadurecimento do mercado. Além disso, a divulgação mais sistemática de relatórios de sustentabilidade e o uso de frameworks internacionais consolidam práticas robustas e comparáveis globalmente.

Oportunidades e Desafios à Frente

O futuro dos fundos de ações ESG no Brasil é promissor, mas não está isento de obstáculos. Entre as principais oportunidades, destacam-se:

  • Crescimento contínuo do número de produtos e gestoras.
  • Maior maturidade na análise de riscos e impactos socioambientais.
  • Expansão do interesse de investidores institucionais e estrangeiros.

Por outro lado, os desafios ainda são significativos. A maior necessidade de educação do investidor é fundamental para evitar mal-entendidos sobre o que realmente significa um fundo ESG. Além disso, a crítica ao risco de greenwashing e práticas superficiais exige que as gestoras mantenham padrões elevados de governança.

Em suma, estamos diante de um ponto de inflexão. A combinação de performance atrativa, regulamentação em evolução e crescente consciência socioambiental pode levar os fundos ESG a se tornarem protagonistas no mercado de capitais brasileiro. Resta aos gestores, reguladores e investidores colaborarem para que essa trajetória seja sustentável e gere benefícios concretos para toda a sociedade.

Robert Ruan

Sobre o Autor: Robert Ruan

Robert Ruan