O mercado de investimentos no Brasil vive uma verdadeira revolução com a ascensão dos fundos de ações focados em ESG. Desde o final de 2022, quando havia apenas 88 desses fundos, até abril de 2024, esse número saltou para 120 sob a gestão de 40 gestoras. Esse movimento reflete não apenas uma demanda crescente por responsabilidade socioambiental, mas também a convicção de que critérios ESG podem, sim, andar lado a lado com performance financeira.
A seguir, exploraremos em detalhes os principais aspectos desse fenômeno: números de captação, desempenho comparado aos fundos tradicionais, tendências globais, composições de carteira, avanços regulatórios e os desafios que ainda precisam ser enfrentados.
O crescimento no número de fundos ESG no Brasil tem sido impressionante. Em 2020, a captação de recursos em fundos de ações com foco em ESG atingiu R$ 2,5 bilhões, com mais da metade desse montante proveniente de produtos lançados nos 12 meses anteriores. Esse cenário demonstra a captação recorde de recursos por parte de investidores que buscam aliar rentabilidade e impacto positivo.
Entre 2022 e abril de 2024, observou-se um incremento de 36% no número de fundos ESG. Esse aumento é resultado de diversos fatores, como maior conscientização ambiental, avanços regulatórios e o desempenho atrativo dessas carteiras mesmo em um ambiente macroeconômico incerto.
Quando se trata de resultados, os fundos de ações ESG não deixam a desejar. Desde abril de 2022, a indústria de fundos de ações apresentou variação média de 14,5%. No mesmo período, os fundos que adotam fatores ESG cresceram 26,5%, enquanto os fundos de equity IS registraram alta de 31,6%.
Para ajustarmos expectativas, é importante comparar esses números com índices de referência. Entre abril de 2022 e outubro de 2024:
Esses resultados mostram que, mesmo com o recuo do Ibovespa e a alta volatilidade global, as carteiras ESG nacionais têm se beneficiado de maior exposição a ativos internacionais e de uma estratégia de diversificação eficiente.
A despeito do sucesso inicial, o ano de 2025 trouxe desafios para os fundos de ações ESG. No primeiro trimestre, houve saídas líquidas recordes de US$ 8,6 bilhões em fundos sustentáveis globalmente, contrastando com entradas de US$ 18,1 bilhões no trimestre anterior.
Essa migração de capitais reflete diversos fatores:
No Brasil, parte dos investidores também migrou para produtos de renda fixa sustentável, buscando proteção contra a volatilidade e aproveitando incentivos fiscais e regulatórios.
Um dos temas mais controversos na gestão de fundos ESG é a inclusão de empresas de setores tradicionalmente considerados de alto impacto ambiental. Até agosto de 2024, as 10 ações mais presentes em carteiras ESG eram:
A presença de gigantes como Vale e Petrobras gera um debate intenso entre exclusão pura e simples e a abordagem de transição e engajamento. Defensores da transição argumentam que o engajamento ativo pode gerar transformações mais profundas nos processos produtivos dessas empresas.
Nos últimos anos, a CVM e entidades de autorregulação setorial implementaram diretrizes que garantem maior clareza sobre os critérios ESG adotados pelas gestoras. Hoje, é comum encontrar relatórios detalhados sobre processos de seleção de ativos, métricas de avaliação e indicadores de impacto.
Essa transparência sobre critérios ESG fortalece a confiança dos investidores e contribui para o amadurecimento do mercado. Além disso, a divulgação mais sistemática de relatórios de sustentabilidade e o uso de frameworks internacionais consolidam práticas robustas e comparáveis globalmente.
O futuro dos fundos de ações ESG no Brasil é promissor, mas não está isento de obstáculos. Entre as principais oportunidades, destacam-se:
Por outro lado, os desafios ainda são significativos. A maior necessidade de educação do investidor é fundamental para evitar mal-entendidos sobre o que realmente significa um fundo ESG. Além disso, a crítica ao risco de greenwashing e práticas superficiais exige que as gestoras mantenham padrões elevados de governança.
Em suma, estamos diante de um ponto de inflexão. A combinação de performance atrativa, regulamentação em evolução e crescente consciência socioambiental pode levar os fundos ESG a se tornarem protagonistas no mercado de capitais brasileiro. Resta aos gestores, reguladores e investidores colaborarem para que essa trajetória seja sustentável e gere benefícios concretos para toda a sociedade.
Referências