O Brasil vive uma prolongada seca histórica de novas listagens, apesar do crescimento global dos IPOs. De 2021 até hoje, a B3 registrou apenas pequenas aberturas de capital, enquanto investidores buscam segurança em ativos de renda fixa.
Em um momento em que o mercado internacional de ofertas públicas iniciais avançou 20% em valor no início de 2025, o Brasil segue retraído. As razões para esse movimento envolvem juros elevados, insegurança fiscal e desempenho fraco das empresas recém-listadas.
Este artigo analisa o panorama recente, os fatores de enfraquecimento, o impacto sobre investidores e as perspectivas para 2025, oferecendo insights e orientações práticas para quem observa esse mercado em compasso de espera.
Após o boom de 2020-2021, quando 74 companhias abriram capital no país, captando US$ 8,47 bilhões em 2020 e US$ 14,73 bilhões em 2021, os números despencaram. Em 2024, menos de dez empresas realizaram IPO na B3, todas de pequeno porte e com liquidez reduzida.
Entre as estreias recentes, destacam-se CVC Corp (relistagem), Biorc (biotecnologia) e Vero Internet (telecom). Porém, mesmo essas operações contaram com adesão modesta, refletindo o receio dos investidores em alocar recursos no segmento de renda variável.
Apesar de o total captado no mercado de capitais ter batido recorde em 2024 (R$ 783,4 bilhões), a maior parte destinou-se a renda fixa. Isso reforça a preferência por investimentos com rentabilidade elevada sem risco de mercado.
Vários fatores convergem para o desaquecimento dos IPOs no Brasil, obrigando companhias a adiar planos de listagem e mantendo o mercado em compasso de espera:
Segundo Guilherme Maranhão, da Anbima, “o custo de oportunidade de investir em equities ou vender parte de uma empresa com desconto acaba sendo um fator proibitivo para os IPOs”. Essa visão ilustra como o cenário doméstico se mostra menos atrativo frente às opções de renda fixa.
O desaquecimento dos IPOs afeta diversos públicos:
Esse ciclo de retração também limita a capacidade de financiamento de setores estratégicos, como tecnologia e biotecnologia, que dependem de capital de mercado para expandir pesquisa e desenvolvimento.
Entre as companhias com processos adiantados ou em estudos de viabilidade estão Privalia, Senior Sistemas, Açu Petróleo, Madero, Kalunga, Lupo, Bluefit, Dori Alimentos, Unigel e Vero Internet. Todas monitoram de perto fatores macro para decidir o momento certo de avançar.
Os principais gatilhos que podem estimular uma retomada são:
Sem esses elementos, as empresas tendem a manter sua estrutura de capital atual, aguardando uma janela mais propícia para evitar avaliações diluídas e baixa liquidez inicial.
Apesar do aquecimento dos IPOs no exterior, analistas do mercado brasileiro não veem perspectivas de grande retomada em 2025. A combinação de juros ainda elevados e incerteza fiscal mantém a renda variável em segundo plano.
No entanto, caso a Selic recue de forma consistente e o governo promova reformas que deem previsibilidade, parte da fila de companhias prontas pode retomar seus processos. Mesmo assim, a maioria deve seguir em análise até sinais claros de recuperação do apetite por risco.
Em resumo, o ambiente de 2025 deve repetir o padrão de cautela: poucas estreias, foco em operações menores e preferência por mercados externos mais dinâmicos. Para investidores, a recomendação é diversificar portfólio, mantendo exposição moderada à renda variável e aproveitando oportunidades em setores de alto potencial, mas com gestão de risco rigorosa.
Para as empresas, o conselho é reforçar governança, aprimorar métricas de performance e preparar-se para o momento em que o mercado volte a abrir espaço para novas ofertas, garantindo agilidade e transparência nos processos.
O Brasil ainda tem um fluxo de empresas interessadas em abrir capital, mas a espera por um cenário macroeconômico favorável continua definindo o ritmo dos IPOs no país. A retomada plena pode exigir paciência, mas também oferece potencial de valorização para quem souber identificar o timing certo.
Referências