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Inflação desacelera, mas consumo ainda mostra fragilidade

Inflação desacelera, mas consumo ainda mostra fragilidade

27/03/2025 - 16:29
Fabio Henrique
Inflação desacelera, mas consumo ainda mostra fragilidade

A desaceleração da inflação oferece um alívio pontual, mas o poder de compra das famílias ainda não se recupera. Enquanto o IPCA-15 aponta queda, o consumo permanece limitado por desafios estruturais.

Contexto e principais números

No mês de junho de 2025, o IPCA-15 registrou alta de 0,26%, marcando o quarto mês consecutivo de desaceleração. Em maio, o índice foi de 0,36%, e em junho de 2024 havia alcançado 0,39%. Esses dados revelam uma tendência clara de desaceleração, mas ainda insuficiente para ficar dentro do teto da meta de 4,5%.

O acumulado em 12 meses encerrou junho em 5,27%, ligeiramente abaixo dos 5,40% observados em maio. No acumulado do ano, a inflação soma 3,06%, o que confirma que o País ainda convive com preços acima do desejável para estimular o consumo.

Principais movimentos de preços

Sete dos nove grupos do IPCA-15 apresentaram alta em junho. O destaque de alta veio de Habitação, que subiu 1,08% no mês, impulsionada pela energia elétrica residencial, que teve reajuste de 3,29% em função da mudança na bandeira tarifária.

Já no setor de alimentação e bebidas, houve a primeira queda em 10 meses (-0,02%). Essa reversão foi puxada por recuos significativos no preço do tomate, do ovo de galinha e do arroz. Em paralelo, a gasolina caiu 0,52%, colaborando para aliviar a pressão sobre o índice geral.

Fatores de pressão e alívio

Além da energia elétrica, outros itens exerceram impacto no índice: café moído, transporte público (ônibus urbano), taxa de água e esgoto, refeição fora de casa e planos de saúde. Esses componentes, ainda pressionados pelos custos de insumos e serviços, limitaram ganhos maiores na desaceleração.

Por outro lado, a queda dos alimentos e da gasolina representa um alívio importante para os consumidores. No entanto, esse cenário isolado não tem sido suficiente para reaquecer o consumo de forma significativa.

Meta de inflação e projeções do Banco Central

A meta central de inflação para 2025 é de 3%, com tolerância de até 4,5%. Estourar esse teto obriga o Banco Central a explicar o desvio ao Ministério da Fazenda. Para não ultrapassar o limite, seria necessário uma deflação de pelo menos 0,57% no índice cheio de junho, o que se mostra difícil de alcançar.

Em suas projeções mais recentes, o Banco Central revisou para baixo a estimativa de inflação de 2025, de 5,1% para 4,9%, e projeta alta do PIB de 2,1%. Essas estimativas indicam que o combate à inflação ainda está em curso e dependem da manutenção de políticas monetárias mais restritivas.

Por que o consumo não se recupera?

Apesar da desaceleração inflacionária, o consumo das famílias segue fragilizado por fatores que vão além dos preços menores em alguns segmentos. Entre os principais entraves estão:

  • Endividamento elevado das famílias, que reduz a capacidade de novas compras e obriga cortes no orçamento doméstico.
  • Mercado de trabalho ainda frágil, com geração de empregos lenta e informalidade acima dos níveis desejáveis.
  • Juros básicos ainda operam em patamares altos, inibindo crédito e consumo de bens duráveis.
  • Crescimento da renda abaixo da inflação em diversos segmentos, limitando o poder de compra.

Esses fatores criam um ciclo de baixo consumo, mesmo com preços mais amenos em itens essenciais. A confiança do consumidor permanece contida, refletindo incertezas quanto à manutenção de renda e ao nível de endividamento.

Perspectivas para os próximos meses

Para os próximos meses, a trajetória da inflação deve seguir em ritmo mais moderado, mas ainda acima da meta. A combinação de demanda mais fraca e ajustes pontuais nos preços de energia e alimentos tende a manter o índice sob controle.

Apesar disso, o otimismo cauteloso do mercado depende de fatores como a evolução das tarifas públicas, a trajetória de preços internacionais de commodities e a resposta do Banco Central diante de possíveis choques de oferta.

  • Acompanhamento mensal da inflação, para avaliar eventuais reversões de tendência.
  • Desempenho do emprego e da renda, que apontam para a recuperação do consumo.
  • Decisões de política monetária, influenciadas pela evolução dos preços e pelas expectativas de mercado.

Conclusão

A desaceleração da inflação no IPCA-15 de junho é um sinal positivo, mas não suficiente para reverter a fragilidade do consumo. Enquanto a inflação se mantiver acima do teto de 4,5% e os juros básicos permanecerem elevados, as famílias continuarão cautelosas em suas decisões de compra.

Para que o alívio inflacionário se traduza em retomada de consumo, será essencial avançar na recuperação do mercado de trabalho, reduzir o nível de endividamento e assegurar que a renda dos lares cresça de forma consistente. Só assim poderemos ver um impacto mais robusto na confiança e na atividade econômica.

Fabio Henrique

Sobre o Autor: Fabio Henrique

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