Em meio a um cenário de juros elevados e inflação moderada, as famílias brasileiras enfrentam o desafio de equilibrar sonhos de consumo com o peso crescente das dívidas.
Este artigo explora como o custo médio de crédito para pessoas físicas e as taxas de juros impactam diretamente o orçamento familiar e as decisões de compra.
O nível de juros no Brasil segue pressionado por variáveis macroeconômicas e decisões de política monetária. Ao final de 2024, o custo médio do crédito para pessoas físicas atingiu 25,1% ao ano, registrando alta de 0,1 ponto percentual.
Em abril de 2025, a taxa média de toda a carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) subiu para 22,8% ao ano, refletindo a manutenção da Selic em patamares elevados e o aumento do prêmio por risco.
Para o crédito livre concedido às famílias, o cenário é ainda mais desafiador: em janeiro de 2025, a taxa média alcançou 53,9% ao ano em operações de crédito livre, alta de 0,8 ponto no mês e 1,6 ponto em 12 meses.
Com as taxas em patamares elevados, famílias de baixa e média renda vêm postergando ou cancelando compras de bens duráveis, como eletrodomésticos e mobília.
O impacto em setores sensíveis ao crédito pode ser observado no varejo de automóveis, que registrou queda nas vendas financiadas, e na linha branca, cujo crescimento desacelerou no primeiro trimestre de 2025.
Além disso, o aumento do custo das parcelas eleva a pressão direta no orçamento mensal, reduzindo a margem para despesas essenciais e lazer.
O rotativo do cartão de crédito permanece como a modalidade mais cara, com taxas médias superiores a 300% ao ano.
Essa linha, amplamente utilizada por emergências e compras parceladas, é responsável por uma fatia significativa do endividamento familiar.
Ao atrasar o pagamento mínimo, o consumidor entra em um ciclo de juros capitalizados, que pode levar a dívidas impagáveis.
Apesar da alta das taxas, a inadimplência total caiu para 3,0% ao fim de 2024, enquanto a inadimplência das famílias recuou para 4,1%.
Esse recuo aponta para um esforço de renegociação de dívidas e para a priorização de pagamentos em dia.
No entanto, a expansão do crédito total em 2024, de 10,9%, indica que mais famílias estão contratando empréstimos, ainda que sob condições onerosas.
O aperto do crédito penaliza com maior intensidade as regiões Norte e Nordeste, onde a renda média é mais baixa e o acesso ao crédito consignado menos difundido.
Famílias de menor renda acabam recorrendo a linhas de crédito mais caras, como o rotativo e o crédito pessoal sem garantia, ampliando o custo final das dívidas.
Nos grandes centros, o impacto se concentra em financiamentos de veículos e de imóveis de menor valor, com aumento de parcelas e redução de prazos.
O Banco Central revisou em 2025 a projeção de expansão do crédito total para 8,5%, com expectativa de crescimento de 9,3% no segmento das famílias.
Apesar do volume maior, o aumento persistente do custo do crédito deve limitar o acesso e reforçar a seletividade das operações.
Ainda assim, o crédito direcionado, com regras de subsídio governamental, tende a crescer 8,8% em 2025, contribuindo para linhas de financiamento habitacional e agrícola.
O cenário atual de juros altos e crédito caro pressiona o consumo das famílias brasileiras, levando a escolhas mais conservadoras e ao adiamento de investimentos pessoais.
A sustentabilidade desse consumo depende de políticas que equilibrem a segurança do sistema financeiro com o acesso a linhas mais acessíveis.
Somente com decisões coordenadas de política monetária e regulatória será possível garantir uma retomada do consumo que seja ao mesmo tempo vigorosa e estável.
O desafio para 2025 é claro: flexibilizar o crédito sem elevar de forma abrupta o risco sistêmico, permitindo que as famílias reencontrem espaço para crescer e investir em seu futuro.
Referências