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Crédito mais caro pressiona consumo das famílias

Crédito mais caro pressiona consumo das famílias

17/08/2025 - 18:08
Lincoln Marques
Crédito mais caro pressiona consumo das famílias

Em meio a um cenário de juros elevados e inflação moderada, as famílias brasileiras enfrentam o desafio de equilibrar sonhos de consumo com o peso crescente das dívidas.

Este artigo explora como o custo médio de crédito para pessoas físicas e as taxas de juros impactam diretamente o orçamento familiar e as decisões de compra.

Cenário atual das taxas de crédito

O nível de juros no Brasil segue pressionado por variáveis macroeconômicas e decisões de política monetária. Ao final de 2024, o custo médio do crédito para pessoas físicas atingiu 25,1% ao ano, registrando alta de 0,1 ponto percentual.

Em abril de 2025, a taxa média de toda a carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) subiu para 22,8% ao ano, refletindo a manutenção da Selic em patamares elevados e o aumento do prêmio por risco.

Para o crédito livre concedido às famílias, o cenário é ainda mais desafiador: em janeiro de 2025, a taxa média alcançou 53,9% ao ano em operações de crédito livre, alta de 0,8 ponto no mês e 1,6 ponto em 12 meses.

Impacto no orçamento e decisões de consumo

Com as taxas em patamares elevados, famílias de baixa e média renda vêm postergando ou cancelando compras de bens duráveis, como eletrodomésticos e mobília.

O impacto em setores sensíveis ao crédito pode ser observado no varejo de automóveis, que registrou queda nas vendas financiadas, e na linha branca, cujo crescimento desacelerou no primeiro trimestre de 2025.

Além disso, o aumento do custo das parcelas eleva a pressão direta no orçamento mensal, reduzindo a margem para despesas essenciais e lazer.

O papel do cartão de crédito rotativo

O rotativo do cartão de crédito permanece como a modalidade mais cara, com taxas médias superiores a 300% ao ano.

Essa linha, amplamente utilizada por emergências e compras parceladas, é responsável por uma fatia significativa do endividamento familiar.

Ao atrasar o pagamento mínimo, o consumidor entra em um ciclo de juros capitalizados, que pode levar a dívidas impagáveis.

  • Atrasos superiores a 90 dias ainda representam 4,1% dos contratos das famílias, embora em queda.
  • O crescimento do crédito livre para pessoas físicas, de 10,9% no saldo total, não se reflete em maiores volumes de financiamento devido ao alto custo.
  • O spread bancário, de 17,8 pontos percentuais em 2024, mantém a diferença entre a taxa de captação e a concedida ao cliente em níveis elevados.

Redução da inadimplência versus endividamento

Apesar da alta das taxas, a inadimplência total caiu para 3,0% ao fim de 2024, enquanto a inadimplência das famílias recuou para 4,1%.

Esse recuo aponta para um esforço de renegociação de dívidas e para a priorização de pagamentos em dia.

No entanto, a expansão do crédito total em 2024, de 10,9%, indica que mais famílias estão contratando empréstimos, ainda que sob condições onerosas.

Consequências setoriais e diferenciais regionais

O aperto do crédito penaliza com maior intensidade as regiões Norte e Nordeste, onde a renda média é mais baixa e o acesso ao crédito consignado menos difundido.

Famílias de menor renda acabam recorrendo a linhas de crédito mais caras, como o rotativo e o crédito pessoal sem garantia, ampliando o custo final das dívidas.

Nos grandes centros, o impacto se concentra em financiamentos de veículos e de imóveis de menor valor, com aumento de parcelas e redução de prazos.

Projeções para 2025 e resposta de políticas públicas

O Banco Central revisou em 2025 a projeção de expansão do crédito total para 8,5%, com expectativa de crescimento de 9,3% no segmento das famílias.

Apesar do volume maior, o aumento persistente do custo do crédito deve limitar o acesso e reforçar a seletividade das operações.

Ainda assim, o crédito direcionado, com regras de subsídio governamental, tende a crescer 8,8% em 2025, contribuindo para linhas de financiamento habitacional e agrícola.

  • Reajuste da Selic e definição da meta de inflação impactam diretamente as taxas cobradas pelos bancos.
  • Regulação mais rigorosa do rotativo do cartão pode reduzir o custo extremo, mas exige prazo de adaptação.
  • Incentivos ao crédito consignado, com menores juros, ajudam a aliviar a pressão sobre famílias com renda comprovada.

Conclusão

O cenário atual de juros altos e crédito caro pressiona o consumo das famílias brasileiras, levando a escolhas mais conservadoras e ao adiamento de investimentos pessoais.

A sustentabilidade desse consumo depende de políticas que equilibrem a segurança do sistema financeiro com o acesso a linhas mais acessíveis.

Somente com decisões coordenadas de política monetária e regulatória será possível garantir uma retomada do consumo que seja ao mesmo tempo vigorosa e estável.

O desafio para 2025 é claro: flexibilizar o crédito sem elevar de forma abrupta o risco sistêmico, permitindo que as famílias reencontrem espaço para crescer e investir em seu futuro.

Lincoln Marques

Sobre o Autor: Lincoln Marques

Lincoln Marques